"Quero olhar para as Berlengas mais de perto. (...) no fundo do horizonte sempre aquelas três nuvens pousadas sobre o mar, chamando por mim. Atraem-me e fascinam-me.
(...)Passo três dias deitado numa pedra a namorar o recorte delicado das Berlengas. Atraem-me como em pequeno as ilhas misteriosas e desertas dos meus sonhos. Por fim meto-me num barco, e depois de três horas a remos vejo-as mudar de cor e encher o horizonte. Distingo as minúcias na Berlenga grande, em Santa Catarina e Farilhões, e ponho o pé em terra com assombro. É um monte espesso com um castelo na base, assente numa pedra destacada e ligado a terra por uma ponte em aqueduto.
(...) Nunca vi água assim: é uma lente esveredeada, que desvenda fundos mágicos.
Subo um carreirinho a pique. Sento-me no planalto e olho. Olho não é bem, trespasso-me. Trespasso-me de cor, de luz, de amplidão. O que aqui existe e domina é o azul do céu e o azul do mar. Bebo-o. Vagueio uns dias ao vento falando só. Viver aqui é viver em pleno céu. É ser nuvem e mar, é ser azul. A vida sobre esta base de granito não tem corpo. A grande rocha está suspensa no vácuo - porque o mar é pó verde muito ténue e a rocha pó roxo a diluir-se.
(...) Não me canso extasiado. Vou por outro carreiro, pelas escadas de palmo abertas na pedra."
in "Os Pescadores" de Raúl Brandão, foto da Garina do Mar
2 comentários:
olha magia tem isto e eu que nunca fui aas Berlenguas...tenho mesmo que ir!
O Raúl Brandão até que tem jeito para estas coisas! Mas claro que não tem tanto como eu para as fotos!!!
Enviar um comentário