24 novembro 2021

Artur Pastor


Confesso que sou suspeito, já que para mim, Artur Pastor é o melhor fotógrafo nacional que através da sua obra, conheço. Conseguiu, a preto e banco como se impõe, registar e transmitir, através de uma máquina fotográfica, um certo Portugal que, apesar de tudo, aqui e ali ainda teima em existir. Saudações à CML e à Fundação FMS que, num rasgo de clarividência e bom gosto, decidiram promover a edição deste livro dedicado ao artista e ao seu trabalho.

«Já corpos velozes tingem o mar de aparições súbitas, para logo se refugiarem amedrontados no fundo da rede» - foi desta forma poética, a um tempo lírica e épica, que Artur Pastor descreveria o copejo do atum ao largo do Algarve, objecto dos seus primeiros trabalhos, datados de 1943 a 1945 e realizados precocemente aos 20 anos, quando cumpria o serviço militar em Tavira. Notava-se já então o que viria a ser a sua trajectória futura, naquilo que esta tem de mais essencial e perene: ao longo dos anos, primeiro como amador e, depois, como técnico do Ministério da Agricultura, Pastor cartografou o país de Norte a Sul, percorreu o seu litoral e interior, conheceu de perto as gentes que trabalhavam na faina do mar e no amanho dos campos. Fê-lo com um afinco e um desvelo tais que só são explicáveis por um profundo amor a Portugal e ao seu povo.

Exposição a decorrer em Lisboa, na Igreja de Santa Engrácia: Artur Pastor - O Povo no Panteão

14 novembro 2021

A Rota das Faias

Nesta altura do ano as serranias à volta de Manteigas revestem-se de cores de Outono. É a altura de ir percorrer a Rota das Faias... O primeiro troço será o menos interessante, vêm-se as árvores de cima, mas depois de se admirar a vista junto à torre de vigia de São Lourenço, é a altura de imergir em todo aquele colorido. Numa parte do troço as faias alternam com umas enormes "pseudotsugas" (ou pinheiro-do-oregão), mas o contraste é muito interessante. O troço final é mais "desorganizado", mas se calhar por isso até mais bonito. Aqui está a descrição do percurso e aqui explica como chegar.

06 novembro 2021

Passeando em Serpa...

Um dia destes fui até Serpa. Sem desprimor para as restantes localidades alentejanas, esta é a minha favorita.
Adoro passear, sem grande destino, junto às muralhas e por aquelas ruelas estreitas que, como alguém já disse, têm o nome do calor e a intimidade do estio...
Ao pôr-do-Sol, pegar numa garrafa de vinho tinto, ir até à Ermida de nossa Senhora de Guadalupe e beber aquele néctar sagrado juntamente com queijo, pão e uns amigos, a olhar para aquelas terras que vão até Espanha, é qualquer coisa de fantástico.
Quase que adormecemos, embalados pelo imenso chilrear dos pássaros que, ao fim do dia, abundam por aquelas paragens mais elevadas,
fazendo-nos acreditar que, naquela planície, outrora com cereais e agora com olivais, há uma espécie de fogo que não morre nunca, que não se conhece senão junto a ela, na demasiada sombra da sua memória.