31 dezembro 2021

O Tomé da Horta

Nunca tinha passado por aqui, e passei porque ali perto era um dos locais onde se poderiam ver grandes aves de rapina, principalmente se conseguisse chegar perto do Guadiana. Falhei o acesso ao Guadiana e já não tinha muito tempo para o procurar, principalmente porque estava entretida a admirar esta linda "paisagem económica".
A primeira imagem que me veio à cabeça ao ver as aldeias e montes rodeadas de terra agricultada foi de um livro que tinha "A minha primeira Enciclopédia", com imagens muito bonitas e sugestivas.
Mas à medida que ia percorrendo aqueles campos agrícolas, vendo as terras lavradas, os regadios a funcionar vieram-me à lembrança "imagens" da Herdade do Tomé da Horta, quer as descritas por D. Jorge Negrão de Vilar de Corvos, entusiasmado com a azáfama e a prosperidade da Herdade, quer pelos comentários do seu irmão Maurício que dizia "o que reina ali em baixo não é a poesia, é... é... é a economia". Economia é, sem dúvida, mas também uma paisagem muito atractiva, com coloridos variados, sobretudo nesta altura do ano em que se vêem ainda os castanhos avermelhados dos "barros de Beja" recentemente lavrados, mas também jovens searas e pastagens verdejantes e ainda, mais perenes, árvores de fruto parcialmente despidas e os verdes escuros dos olivais sem fim. De onde em onde uma placa anuncia obras em curso - electrificação, blocos de rega - destinadas a melhor aproveitar a riqueza daquelas terras.
Tomé obrigou Jorge a passar adiante e seguiu-o logo depois. E de caminho ia-lhe comentando tudo o que viam; narrou como alporcara uns pessegueiros, o resultado que tirara do enxoframento das vinhas, a quantidade de fruta que o laranjal lhe produzira, quanto despendera na construção do lagar, as dificuldades que encontrou na abertura da nora, o que fizera pouco produtiva aquele ano a cultura do trigo, os cuidados que lhe mereceram os meloais, e mil outras coisas relativas ao amanho das suas terras, das quais nem um só palmo se poderia encontrar, onde as plantas nocivas usurpassem o lugar das proveitosas.
in "Os Fidalgos da Casa Mourisca", Júlio Dinis Gostei de ver estas "paisagens económicas" e das lembranças que me trouxeram. E numa época em que a agricultura tem vindo a ser tão menosprezada por políticos e governantes, faço votos de que 2022 traga muito boas colheitas!

29 dezembro 2021

De regresso à Reserva Especial de Maputo (2)

A caminho da planície (ou antiga lagoa) onde estavam os elefantes cruzámos com um grupo de pivas (inhacosos). Como muitos destes antílopes vieram do Parque nacional da Gorongosa ainda estive a ver se reconhecia algum mas acho que não...
Na zona onde estavam via-se bastante água, ou seja, ou é mesmo uma antiga lagoa ou a chuva das últimas semanas alagou bastante a planície.
É engraçado ver a protecção dos pequeninos. Este estava "abrigado" debaixo da tromba da mãe e rodeado por bastantes adultos. Também andavam por lá uns facocheros que quase não se viam escondidos pelo capim. Estes estavam numa clareira, possivelmente já "desbastada" por eles e pelos elefantes. O grupo de elefantes era muito interessante, com muitos pequeninos o que é bom sinal! E como a fome já apertava fomos até à beira da lagoa Xingute para um bem merecido (e bem fornecido) piquenique

27 dezembro 2021

De regresso à Reserva Especial de Maputo (1)

De passagem por Maputo, e porque não havia grandes alternativas (a Gorongosa estava fechada, as praias também, à Inhaca só se conseguia ir ao fim de semana e no barco da carreira), tentámos juntar um grupo e arranjar um programa para ir espreitar a Reserva Especial de Maputo. O que também não foi fácil, primeiro só arranjávamos um carro fechado, depois havia um carro aberto mas afinal não estava pronto e por fim lá conseguimos desencantar uma agência que fazia o passeio para grupos "fechados".
A saída de Maputo também não foi fácil: o motorista que nos ia buscar foi ter connosco ao local errado e só depois de acordar várias pessoas demos com ele, e entretanto o rapaz estava tão confuso que achámos melhor ir pelos nossos meios... Ou seja, chegámos à entrada da reserva quase duas horas depois do previsto.
Mas pronto, tínhamos um bom comité de recepção logo depois de entrar na reserva. Primeiro um grupo de zebras e bois-cavalos (há quem lhes chame gnus), ver foto de cima. É engraçado como estas duas espécies costumam conviver, qual será a sinergia entre elas?
E a seguir um grupo de impalas. Estas é "costume" estarem ali perto da entrada, aliás nunca (bem, também só lá fui duas vezes) as vi em mais lado nenhum.
Um pouco mais à frente estava um grupo de girafas também a dar-nos as boas vindas. Quer dizer, uma delas andava entretida com umas folhagens mas as outras (eram umas cinco) cumprimentaram-nos devidamente. Depois de inúmeras fotografias às girafas seguimos viagem até uma antiga lagoa, onde entrámos por uma picada que a ladeava. E o que encontramos? mais girafas! Desta vez era só uma família: macho, fêmea e juvenil. O macho estava mais afastado e aproximou-se da família, provavelmente para tomar conta? ou seria para que pudessemos fazer uma "foto de grupo"? Regressámos pela mesma picada e, inédito! um chacal. Nunca tinha visto nenhum no mato e não fazia ideia que existiam por ali. Cruzámos também (e mais uma vez, aliás foram muitas que eles abundam na reserva) com um casal de changos que, desta vez, não fugiram (logo) aos saltos quando nos viram. Continuámos a viagem até à lagoa Xingutu, onde seria o piquenique do almoço, mas descobrimos ainda uma inhala curiosa que nos espreitava meio disfarçada entre as folhagens. E pouco depois, numa outra antiga lagoa, lá estavam eles! os elefantes que deram o "petit nom" à reserva: "reserva dos elefantes"! O almoço teria que esperar, íamos primeiro ver os elefantes. E o resto contarei depois...

23 dezembro 2021

19 dezembro 2021

PNPG, a Ermida da serra Amarela

Apesar de se chamar Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Parque inclui também, entre estas duas serras, mais precisamente entre as albufeiras de Vilarinho da Furna (rio Homem) e do Touvedo (rio Lima), a serra Amarela. E é nesta serra Amarela que se localiza uma das Ermidas do PNPG. A outra, talvez mais conhecida pela envolvente (cascatas do rio Arado, do rio Cabril, etc.) é menos interessante (ou pelo menos tem menos potencial) do que esta.
É mais ou menos impossível entrar com o carro naquele intricado de ruas (embora tivesse atravessado outras aldeias também por ruas bastante estreitinhas), mas também o que interessava era uma visita a pé..
Parei o carro no largo da igreja, perguntando a uns senhores que estavam às voltas com uma obra se ali não estorvava. Disseram-me que não e entretanto chegou uma carrinha com entregas para a Junta de Freguesia e pude confirmar que de facto não estorvava.
Disse também aos senhores que tinha estado ali há cerca de 40 anos e que me lembrava de uns espigueiros e de uma eira. Responderam-me que um pouco mais à frente havia uma eira e espigueiros e fui à procura.
Seguindo pela rua que tinham indicado encontrei de facto uma pequena eira, ladeada por um espigueiro, com ar de que seriam utilizados. Mas tinha que haver mais... Passeando pelas ruas da aldeia consegui encontrar um núcleo de espigueiros. Um deles estava aberto e vazio, mas como estavam por trás de um portão fechado não consegui confirmar se estaria abandonado ou à espera de recarga. Mas todo aquele núcleo parecia bastante interessante e merecedor de uma recuperação. Aliás vê-se que algumas casas estão a ser recuperadas, o que mostra que o potencial da aldeia, com aquela localização fantástica, pode ser aproveitado. No regresso ao carro encontrei também, no largo da igreja, uma antiga casa com potencial para ser uma recuperação gira,
e uma placa informativa sobre o Núcleo Museológico (clique na foto para ampliar) mas que já não visitei porque tinha que me pôr a caminho.
Ou seja, tenho que lá voltar com mais tempo... Até porque gostava de encontrar a eira e o espigueiro que tinha fotografado há quase 40 anos:

11 dezembro 2021

O vai e vem do mar

Há uma zona, na Praia da Foz, onde as rochas são pontiagudas e cheias de concavidades entre os respectivos picos. Gosto muito dos efeitos que o mar faz sobre elas no seu vai e vem constante. Estava mesmo a precisar de Sol!

01 dezembro 2021

1º Dezembro de 1640

Nunca é demais assinalar a data, sobretudo quando começam a aparecer publicamente, com maior frequência do que era suposto, mapas que incluem o território português como pertença de uma qualquer união ibérica. É preciso lembrar, também publicamente, que, pela nossa parte, nos libertámos desse pesadelo no século XVII. 
Tudo começou no dia 1 de Dezembro de 1640, quando 40 nobres invadiram o Paço da Ribeira, mataram o representante dos interesses castelhanos em Portugal, Miguel de Vasconcelos e prenderam a Duquesa de Mântua (intitulada vice-rainha de Portugal), encarcerando-a no Convento dos Santos. Derrubado o domínio castelhano em Lisboa, D. João IV, 8º Duque de Bragança, foi proclamado Rei de Portugal, mas somente em 1668 Castela voltaria a reconhecer a independência de Portugal.
Começámos como Estado-nação em 1143; passaram 878 anos, muitas bandeiras simbolizando várias etapas, muitas vitórias e derrotas, muito sofrimento e muita alegria…, mas cá continuamos, com tudo o que é bom e mau, mas que nos caracteriza como Povo. É sempre oportuno referir que Portugal nada deve a um estado que é herdeiro de uma história ibérica assente na conquista de todas as nações vizinhas, criando uma quase hegemonia na península, ainda hoje, bastante irritante para alguns, dada a sobranceria com que é por vezes proclamada. De todas elas, somente Portugal escapou como Nação independente e, este facto, só pode ser motivo de orgulho nacional.