31 agosto 2023

Forte de São Lourenço da Cabeça Seca

Em boa hora, a Espaço e Memória e a Aquastart estabeleceram uma parceria que nos possibilitou uma visita ao Forte de São Lourenço da Cabeça Seca, mais conhecido como Torre do Bugio. Como anfitriões, dois historiadores: Joaquim Boiça e Fátima Barros. 

A ideia de uma fortificação para a barra do rio Tejo, destinada a proteger por via marítima a cidade de Lisboa, data do reinado de D. Sebastião, tendo sido escolhido para a edificação o areal da Cabeça Seca (Cova do Vapor / Trafaria), ou seja, um banco de areia formado pelo assoreamento da foz do rio, na confluência com o Oceano Atlântico. 

A sua função seria a de proporcionar fogo cruzado com a antiga Torre de São Gião, actual Forte de São Julião da Barra, protegendo assim as incursões de inimigos pelo lado direito do rio, já que o lado esquerdo estava naturalmente protegido pela acumulação de areias.

Na sequência na batalha de Alcácer-Quibir e da crise sucessória que se instalou após a morte do soberano, a possibilidade de uma invasão pelas tropas castelhanas de Filipe II era real, pelo que foi construída uma estrutura de pequenas dimensões, assente em estacaria de madeira que, entulhada com pedras, serviu de alicerce para uma plataforma com algumas peças de artilharia. Inevitavelmente, em 1580, a armada inimiga destruiu o baluarte que, posteriormente foi desarmado. Paralelamente, a fragilidade do material aliada à instabilidade do local e à acção das correntes e marés, arruinou irremediavelmente a estrutura.

Com o domínio filipino veio a necessidade de melhorar o sistema defensivo da barra de Lisboa, dado que esta estava permanentemente sob a ameaça dos navios corsários ingleses. Em 1586 começaram então os estudos, a cargo do arquitecto Giovanni Casale, para a construção de uma fortificação definitiva. No entanto, somente após a Restauração da Independência as obras foram dadas como concluídas: mais uma vez, a necessidade de rapidamente defender a barra do Tejo de uma forma mais consolidada impunha-se, desta feita para a proteger das incursões castelhanas. A conclusão dos trabalhos foi atribuída a João Torriani, o que se verificou em 1657. 

Durante este longo período existiram sempres estruturas mais ou menos fortificadas, mas sempre pouco eficazes para o fim que se pretendia. Entretanto, em planta datada de 1693, prevê-se a existência de uma torre encimada por um farol que acabou por começar a operar com azeite, no período de Outubro a Março. Esta estrutura foi destruída pelo terramoto de 1755, tendo a sua reedificação sido determinada pelo Marquês de Pombal, entrando em funcionamento em 1775. Em 1911, o forte ainda tinha uma guarnição, tendo inclusive servido de prisão. O nome Bugio provém da palavra francesa bougie, que significa vela de cera ou estearina. 

Em 1957 é considerado um imóvel de interesse público devido sobretudo à existência do farol, estando a responsabilidade da sua conservação, ou antes, a ausência dela, a cargo da Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. É confrangedor visitar tanta história e só vermos degradação e paredes nuas, sem qualquer vestígio do passado a não ser na capela quinhentista, neste estado de deterioração. Mesmo no que toca às instalações dos faroleiros, que por lá trabalharam até 1982, restam apenas interiores, em madeira, em péssimas condições. 

Esta fotografia, de 1904, gentilmente deixada registar pelo Dr. Joaquim Boiça, filho e neto de faroleiros do Bugio, com um entusiasmo verdadeiramente contagiante durante as quase três horas que nos acompanhou, mostra as gentes da Trafaria a deslocarem-se a pé para assistir à missa, presidida pelo capelão da fortaleza, aproveitando para isso a maré baixa.

18 agosto 2023

De volta a Almourol...

Integrando a linha defensiva contra os mouros ao longo do rio Tejo, em 1171 da era de Cristo, o Mestre Gualdim Pais edificou o Castelo de Almourol com os freires Templários, seus irmãos. 
Pejada de lendas propensas ao mistério, esta ilhota leva-nos realmente a outros tempos… da antiga linha defensiva é o que resta juntamente com o Castelo de Tomar, embora estejam previstas para breve  escavações em V. Nova da  Barquinha. 

Com uma localização estratégica invejável, passaram pela ilha, entre outros seguramente, lusitanos, visigodos, mouros e finalmente cristãos que, entretanto, tinham chegado à região pelo ano de 1129.  
É neste contexto que Afonso Henriques encarrega os Templários da empreitada de criar uma linha de contensão às investidas mouras, sendo por este facto que o Castelo de Almourol é não só reconstruído, mas também ampliado e alterado em termos arquitectónicos. 
À quem diga que Portugal nasce por força e convicção de um Rei e dos Templários. Tendo a acreditar…