Tiveram a gentileza de me oferecer esta lindíssima "recolha", onde o autor reproduz, em forma de aguarela, o "Caderno de Todos os Barcos do Tejo" de João de Souza, 1785.
De todas as embarcações representadas confesso, no entanto, que o meu preferido é este barco de pesca, que por sinal não é do Tejo.
Será que alguém se candidata a identificar o modelo aqui reproduzido?
32 comentários:
Cheira a Setubal, Sado, Sesimbra....
Utilizado na pesca, com um armamento muito simples e pouco volumoso.
tenho uma aguarela deste senhor que ganhei uma vez de prémio numa regata!!
deixas-me depois dar uma volta nestes barcos?
Uma volta? Talvez. Se prometeres que não metes água :)
Quanto ao barco caro Blue Moon, permita-me que aguarde por mais "opinações" (se é que há mais candidatos) antes de dizer se está perto ou longe.
Afinal também tens amigos(as)com bom gosto! Este tens mesmo de me emprestar! Quanto à embarcação...
Faz lembrar as canoas em Moçambique, só que com duas velas...
não sei... tem um ar mais "elaborado" que as canoas de Moçambique
A mim faz-me lembrar os Saveiros do Brasil!
Cá para mim é um CAÍQUE algarvio, embarcação regional com excelentes qualidades náuticas que conseguiam pescar até 140 milhas da costa algarvia.
Há notícias de caíques que nos princípios do século XIX chegaram ao Brasil e outros a Angola, a Moçâmedes.
Também navegaram nas águas do Tejo.
Os pescadores algarvios pescavam a Norte do Cabo S. Vicente, vendendo o pescado em Lisboa ou Cascais.
Não será com certeza uma falua do Tejo, pois apeser de envergarem dois panos latinos bastardos, como os caíques, o da proa da falua tem menos área vélica.
A cana do leme dos caíques do Algarve, para governo, entrava pela borda falsa do painel de popa.
Nas faluas a fêmea da cana encaixava na cachola do leme e trabalhava por cima da borda falsa.
Como observador, aqui fica a minha modesta opinião.
è um caíque algarvio.
É um caíque algarvio.
Efectivamente, pelo desenho podíamos confundir com um Caíaque Algarvio, eventualmente até por uma Falua do Tejo ou porque não um Batel do Alto da Nazaré?!
Mas não é nenhum deles.
Os dois mastros simétricos com inclinação bastante pronunciada para vante, e as duas velas latina de esteira subida armadas em bastarda não deixam marcas para dúvidas... é um Barco de Sesimbra!
Temos prémio?
Caro Velas do Tejo:
O Barco de Sesimbra tem leme com xarolo e o apresentado na imagem não tem.
O Batel do Alto da Nazaré tem a proa e o leme completamente diferentes. Os panos tb são talhados de maneira diferente.
Amigo Nautilus:
Arranjou aqui um grande embróglio.
Deve estar com a barriguinha cheia de tanto rir!:):):)
É natural que pelo facto de estarmos a dissertar sobre uma aguarela corremos sérios riscos de ficar "a ver navios".
Mas, como acredito que o autor da aguarela não tivesse em mente nada mais que registar, e porque não, eternizar um momento pela sua obra e não documentar um qualquer arquivo histórico, é natural que algum nível de detalhe se tenha perdido pela criatividade do artista.
Deste modo, acredito que a obra não esteja devidamente pormenorizada no desenho do casco. Contudo, o posicionamento dos mastros é único e característico do Barco de Sesimbra. Daí a razão do meu palpite…
Mas estou expectante!
Post Scriptum: Não se preocupe que só pelo valor da discussão se houver prémio dividimos irmãmente.
Na primeira imagem de 1785 , aliás muito bonita, é curioso que não consigo ver nenhum navio de arte redonda. São todos latinos, muito pouco usuais para a época. Predominam os lugres de quatro mastros.
Será que foi nesta imagem que se inspiraram para a futura cerimónia da Benção dos bacalhoieiros?;);):):)
Velas do Tejo:
Não estou minimamente preocupado, mas muito bem disposto por esta "discussão" sã e sádia.
Penso que o nosso amigo Nautilus irá desvendar o mistério.
De outra forma não saímos da cepa torta:):):)
o prémio não é esta discussão divertida?
eu cá não sei que barco é!! e nem me atrevo a entrar na discussão... e ainda fui espreitar o meu "Veleiros de Portugal" pra ver se descobria!
mas o que já deu para perceber é que o Velas do Tejo tem um "nome" à altura ;)
oh A Ver Navios, a foto da capa do livro é mesmo capaz de ser de uma benção de bacalhoeiros... basta ver o Terreiro do Paço para se perceber que é de muito depois de 1785!!
O Caíaque Algarvio armava, igualmente, duas velas latinas em dois mastros. Contudo, uma característica deste aparelho era que os mastros eram colocados em direcções divergentes, um para vante e outro para ré.
Se prestarmos atenção ao casco, nomedamente à popa ficamos com a sensação de que esta é mais aguçada que a de um caíaque.
Estive a olhar com atenção a primeira imagem e achei curioso a presença de uma caravela algures no canto inferior esquerdo.
Quase que apostava que os 3 lugres são o "Argus", "Creoula" e o "Santa Maria Manuela".
Logo, a aguarela só pode ilustrar m período posterior a 1937.
isto um pouqinho mais a bombordo e ainda o Amoreiras ficava na pintura!
Está aqui o fado armado!!! Pois bem, sugiro que saltem as guitaras e as violas e o Nautilus que cante o fadinho:):):)
Com o fadinho do Nautilus a desvendar o mistério, ganhamos todos o prémio.
Que eu saiba a benção foi sempre em frente ao "jirónimos" e eu aqui não os vejo, nem com a minha lupa.
Quem não conhece os "jirómanos"não conhece Portugal!Óra, tá bem? pois!
A conversa vai animada....
e como ainda têm os cascos escuros ilustra um período anterior a 1940?
ou então o senhor aguarelista tem muita imaginação ;)
pode não ser a benção... podem ser os navios que saíram do Seixal a caminho dela!!
Já não consigo dizer mais nada . Estou farto de me rir, como não fazia há muito.
Muito obrigado pelo belíssimo serão.
Até amanhã e bom descanso a todos.
Os lugres ficavam em Almada e, do cais do Ginjal, descarregavam o bacalhau enfardado para os varinos e fragatas que os transportavam para as secas do bacalhau no Seixal.
O Seixal já foi bem mais navegável que nos dias de hoje, contudo, tenho dúvidas que fosse possível navegar com uma embarcação destas dimensões por aqueles canais.
Bom... só agora vi quem era o autor das aguarelas. É giro, ora aqui está uma discusão interessante em torno de pura ficção... portanto, a partir de agora, a embarcação da aguarela que deu o mote à discusão até pode ser um moliceiro!...
Aquela caravela no cantinho é que me "parte todo"!
Qual benção, qual quê, isto são os Tall Ships 2006 com a caravela da Aporvela apanhada no shot. Não estou a ver outro contexto em que caravelas e lugres podessem ser contemporâneas...
os lugres ficavam muitas vezes fundeados no rio Coina... mas talvez fosse do lado do Barreiro!?! onde era a Parceria Geral das Pescas?
e para os Tall Ships faltam os das velas redondas todos!!
do que percebi?!? as aguarelas dos barcos são mesmo reproduções das tais gravuras de 1785... a capa é que não tem nada a ver!! se calhar foi mesmo para lançar a confusão ;)
Já devia estar deitado e agora a falar muito a sério.
Brincar é brincar, dizer coisas menos correctas é outra coisa.
Os bacalhoeiros da praça de Lisboa, quando chegavam da pesca fundeavam ou atracavam no Gingal. Aí desembarcavam a tripulação e os seus haveres, bem como lhes era pago as suas remunerações provisórias, pelo pessoal administrativo da empresa e seguiam para suas casas, quer de comboio, táxi ou autocarro.
Todos os navios da pesca à linha da pesca do bacalhau tinham os seus secadouros desde o Seixal (Moinhos Velhos), caso da Atlântica; Rio Coina, Parceria Geral de Pescarias; Palhais, Armazens José Luís da Costa, Pescal e mais. De exemplo chega.
Os navios permaneciam no Gingal até à chegada das primeiras "vivas" para entrarem nos seus ancoradouros definitivos para descarregarem o bacalhau frescal(peixe verde,da pana, tal qual sai do porão),resultado da campanha. Se por motivo de calados para irem para as suas secas, não o pudessem fazer, então eram aliviados no Gingal, em Xabrégas ou no Poço do Bispo para depois seguirem para os seus amarradouros, com segurança, para a descarga , reparação e preparação para a próxima campanha.
Nunca nenhum navio da pesca do bacalhau, após uma campanha de pesca trouxe bacalhau enfardado.
Isto que fique bem anotado, porque se tal sucedesse o peixe vinha podre.
Era em frente das suas secas naturais que o navio era descarregado.
Por vezes há confusões, que eu entendo perfeitamente.
Quando do declínio total da pesca, muitos armadores na tentativa de sobrevivência importaram bacalhau enfardado, mas seco, bem como quando a frota do país em anos antanhos não capturava o bacalhau necessário e era obrigado a importá-lo ensacado e seco.
Na época áurea da pesca do bacalhau, quando a nossa frota conseguiu pescar 75/80 % do que necessitávamos, todo o "peixe" era frescal(bacalhau da pana) e seco em secadouros naturais com vento, a uma temperatura máxima ambiente de 24/25 graus e uma humidade máxima de 75/80%.Esta descrição é de uma maneira muito resumida, só para dar uma ideia. Este era o bacalhau português de cura normal, mas para os bons apreciadores de bacalhau, fazia-se a cura "amarela", que não chegava ao bolso de todos, por ser mais dispendiosa e mais demorada. Falarei nesta cura em altura mais oportuna.
Fiz esta descrição, a esta hora da manhã, sem me preoucupar com o texto ou com a pontuação.
Bacalhau chegado em navio da pesca do bacalhau enfardado, é que não.
A salga do bacalhau a bordo é muito importante. Uma má salga pode pôr tudo a perder. Salgar bacalhau é uma técnica. Depende da origem do sal que se embarcou e da zona onde o bacalhau foi pescado.
Não quero ser mais maçador.
Outras oportunidades surgirar para falar sobre esta matéria.
Um abraço à Garina do Mar, ao Nautilus e ao Laurus Nobilis, com votos de um bom 2008.
Desculpem o chato.
O que eu perdi ontem à noite! Que discussão tão animada :)
Ia agora pôr o "desenho" completo do barco com a respectiva legenda mas, talvez seja mais interessante publicar mais uma ou duas aguarelas do livro para ajudar à confusão :)
Obrigado A Ver Navios por nos dar mais um pedacinho do seu extraordinário baú. Conto consigo para me fazer descobrir mais umas quantas preciosidades em 2008. No seu Nós e o Mar claro, e por aqui sempre que lhe aprouver. Um abraço!
E obrigado Velas do Tejo por ajudar à festa. Ficámos a conhecer mais um interessado na nossa História Marítima.
Quanto à capa do livro, não diz nada. Provavelmente o senhor resolveu "juntar" em frente ao Terreiro do Paço "todos os barcos", talvez para nos mostrar como o Tejo podia ficar bonito se muitos deles não tivessem desaparecido. Mas as restantes aguarelas são mesmo reproduções de gravuras: em cada contrapágina aparece em pequeno a gravura que lhe deu origem.
Bom... agora que estou devidamente enfardado, um bom dia a todos com votos de um radioso e bem salgado 2008... assim como o bacalhau!
o A Ver Navios não deixa escapar uma ;)
é da maneira que aprendemos sempre mais umas coisinhas!!
Realmente o MN esteve animado... basta uma noite afastado do burgo e pronto... no dia seguinte já aprendi mais umas quantas coisas. Bela troca de argumentos! Quanto ao livro, agora é que o tenho de ler mesmo...
Velas do Tejo:
A "discussão" da noite foi muito gira, porém tenho de lhe pedir desculpa por dois motivos:
1 - Não lhe desejei um bom ano de 2008. Esqueci-me, não ligue.
2 - De modo algum o queria melindrar com o bacalhau enfardado.
E por fim agradecer-lhe o modo bem disposto como recebeu o comentário.
"Bom... agora que estou devidamente enfardado...."
UM BOM ANO PARA TODOS do João
... trata-se do barco dos moinhos:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0c/ALM-covapiedade.png
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