07 maio 2017
Um passeio no montado (1)
Há uns anos no âmbito de um trabalho sobre Inovação em Meio Rural recomendaram-me que entrevistasse o Eng.º Francisco Almeida Garrett da Casa Agrícola das Herdades de Monte Novo e Conqueiro. Foi uma das entrevistas mais interessantes que fiz, quer pela simpatia e entusiasmo da pessoa que entrevistei (viram o documentário da BBC, "Forest in a Bottle"?) quer pela diversidade e complementaridade das produções e actividades, na maior parte dos casos cobrindo toda a cadeia de valor e, sobretudo, pelas diversas inovações introduzidas, de forma incremental e continuada.
Desta vez voltei lá num passeio organizado pela Montis. Além de valer pela paisagem, este "passeio da biodiversidade" visava conhecer um modelo de gestão produtiva num território localizado em Rede Natura.
A diversidade do montado aqui é notável, com sobreiros centenários e outros mais novos, áreas de matos e de pastagem, onde conseguimos ver corços e javalis, charcas, pequenas albufeiras e ainda galerias ripícolas que servem de abrigo a inúmeras aves.
O perigo de incêndio é uma das maiores preocupações (se é que não é a maior), levando mesmo a condicionar o acesso à propriedade em épocas críticas. Daí ser fundamental assegurar a gestão dos matos que aliás é feita de forma exemplar: em vez de utilizar grades de discos que são muito "eficientes" mas que não só deixam o solo demasiado descoberto, trazendo problemas de erosão e de redução do seu teor orgânico, como também podem destruir os sistemas de raízes superficiais dos sobreiros, o controlo é feito com recurso a corta-mato que com a ajuda do gado permite manter pastagens "biodiversas".
A diversidade das flores, dominada pelos rosmaninhos, era mesmo notável.
E até encontrámos alguns povoamentos bem conservados de halimium verticillatum, um endemismo lusitano que ocorre nas charnecas de montado.
Mas a propriedade não se limita ao montado. Olivais e vinha que dão origem a um azeite excelente e a vinhos muito agradáveis, pinheiro manso para a produção de pinhão, culturas de luzerna e produção pecuária (bovino mertolengo e porco preto), convivem com a produção de cortiça e ainda com actividades cinegéticas e com uma cultura inovadora de sobreiro de regadio. Mas essa história fica para mais tarde...
2 comentários:
Belos exemplares, num passeio que deve ter sido muito agradável.
Tens razão. A paisagem é muito bonita. E é muito relevante a preocupação com os incêndios: afinal a riqueza está nas árvores.
Já fui rever o teu livro sobre a inovação e aguardo com expectativa a história seguinte.
Enviar um comentário