Quando se vai a pé até ao cabo Espichel, a primeira coisa que se avista é o farol, obrigatoriamente conspícuo na paisagem.
E a segunda imagem (além do aqueduto que já nos acompanha desde perto da Azóia) é o domo, e o respectivo lanternim, da "Casa da Água" (ou Mãe de Água como há quem assim lhe chame). E para quem, como eu, já foi muitas vezes para essas bandas, a imagem tinha qualquer coisa de estranho que não consegui identificar logo: ok, a pintura era recente, mas não era só isso...
Mais perto, dá para perceber que está em curso uma grande intervenção, destinada a recuperar uma das "grandes obras" mandada empreender em 1770 (juntamente com as já referidas reparações da igreja e a construção da "Casa da Ópera"), por D. José I (que era juiz da Irmandade): a Casa da Água e o aqueduto que trazia água desde a Azóia até ao Santuário.
Já nessa altura, quando ainda não existiam "Dias Mundiais da Água", havia preocupação com o abastecimento das populações, mesmo que deslocadas.

(clicando na foto dá para ampliar)
A construção da casa da água, que serviria "para descanso e refrescamento e lazer", incluía o aqueduto e vários tanques de abastecimento na horta-jardim, que forneciam água e alguns alimentos aos romeiros. Na fotografia abaixo está representado um dos inúmeros tanques da Casa da Água, o único que fica no exterior e que recebe a água através de uma caleira existente no cimo do muro.
O interior da Casa da Água deve ser muito interessante com várias fontes e painéis de azulejos. Visita a agendar numa próxima ida ao cabo Espichel.
Só quando consultava informação suplementar sobre o Santuário, que podem ver no portal do SIPA, é que percebi o que havia de diferente: do lanternim, até esta reparação, só existiam os pilares de arranque. Ficou mais bonito assim. E espero que recuperem tudo o resto...
O culto de Nossa Senhora do Cabo já existiria pelo menos desde 1366, segundo atesta um documento da chancelaria de D. Pedro I. E a Confraria terá sido criada entre 1385 e 1410, reunindo várias freguesias (os círios), cujo número ia aumentando, tal como o número de romeiros.
Além das habitações dos romeiros, foram sendo construídos outros edifícios, incluindo a casa da ópera, atualmente em ruínas, e também dois corpos sobrelevados, que unem as torres da igreja às hospedarias, e que correspondem à casa das pratas (no lado esquerdo) e à habitação do capelão ermita (no lado direito).

e alcandorada sobre a bonita praia dos Lagosteiros, no local onde, segundo a tradição, a imagem milagrosa de Nossa Senhora terá sido descoberta por dois idosos, uma da Caparica e outro de Alcabideche, avisados em sonhos por Deus.
São várias as lendas, numas viram a imagem em sonhos, noutros terão visto uma luz sobre o local, noutras ainda terão visto a Senhora subir a íngreme encosta montada numa jumentinha que deixou as suas patas cravadas na rocha.
Na fachada virada para terra pode ver-se uma janela com uma moldura de pedra, actualmente emparedada, ladeada por dois painéis de azulejos, muito danificados, mas onde ainda se conseguem distinguir dois peregrinos.
O acesso à capela é feito pela fachada nascente, onde existe um portal cuja moldura de pedra, bastante elaborada, contrasta com a simplicidade da ermida.