
Como tinha dito no último artigo, outro local, também em Espanha, onde se pode ver quebra-ossos é na Andaluzia onde estas aves têm vindo a ser reintroduzidas pela Fundación Gypaetus, através de um programa europeu.
O ano passado fui procurá-los aos Parques Naturais Sierra de Castril e de las Sierras de Cazorla, Segura y Las Villas, local onde "vivem" os que têm vindo a ser libertados no âmbito do programa de criação em cativeiro da Fundación. No entanto, chovia torrencialmente (nas zonas mais altas era mesmo neve) e não se conseguiu ver nada!!
Mas, como no meio dos azares há sorte, conseguimos uma visita guiada, pelo director da Fundación, ao Centro de Cria localizado na Sierra de Cazorla (ver foto de cima). Este centro pode habitualmente ser visitado entre Maio e Setembro, altura em que não há perigo de perturbar a reprodução em cativeiro e vale bem os 5 euros que se paga pela visita.

O centro tem várias gaiolas (ver foto acima) onde vivem os adultos reprodutores e as crias até serem libertadas ou até crescerem para se tornarem também reprodutoras (ver fotos abaixo: um adulto a mostrar a sua magnífica plumagem e um juvenil abrigado da chuva torrencial).


Nenhuma das aves deste e dos outros centros do programa viveu em liberdade. As aves vão sendo trocadas entre os vários centros europeus que existem na Áustria, França, Alemanha, Grécia, Itália e Espanha (e penso que ainda inclui um zoo do Reino Unido, a Suíça e a Turquia) para evitar problemas de consaguinidade.
E depois são libertadas pelo sistema de "hacking" que consiste em colocar 3 ou 4 crias numa concavidade rochosa quando elas começam a saber alimentar-se sózinhas e até saberem voar e procurar alimento (na foto de baixo um detalhe da "cueva de hacking" na Sierra de Segura, onde o ano passado foram libertadas 4 crias, todas fêmeas: a Viola, a Zafra, a Marchena e a Encina).

Acabam por viver mais de um mês nessa "gruta", passando a considerar o local onde fazem os primeiros voos como o local onde nasceram. Durante esse mês um grupo de vigilantes leva-lhes a comida enquanto dormem e durante mais algum tempo vão deixando comida na zona envolvente da "gruta" para que os já juvenis se habituem a procurá-la.
A ideia de juntar 3 ou 4 crias serve para que se apoiem mutuamente, dado que não têm o apoio dos progenitores, nomeadamente a correrem com outros animais que andam na proximidade (corvos, grifos, raposas) e vão lá roubar-lhes a comida, e para que aprendam a definir hierarquias.
Enquanto não começam a voar são vigiadas em permanência por uma equipa de técnicos da Fundación Gypaetus e de voluntários que anotam a sua evolução, os treinos que fazem, as hierarquias que estabelecem (na foto de baixo um aspecto da escarpa onde se localiza a "cueva de hacking" na Sierra de Segura - a "cueva" é aquela grande concavidade em cima e do lado direito e a foto foi tirada do local onde estão os vigilantes).

Todos os exemplares libertados têm um emissor que permite perceber por onde andam (ver aqui) e se está tudo bem com eles.
Espero este ano conseguir voltar!
Pode saber mais sobre este projecto na página da Fundación Gypaetus